sexta-feira, 12 de novembro de 2010

De um longuínquo tempo

Este post é para resgatar as memórias que escrevi na época da temporada curitibana de O SONHO

 

RELATÓRIO DE VIAGEM


E
m detalhes a temporada de "O SONHO" da Cia EnvieZada no Teatro Novelas Curitibanas em Curitiba - março 2007

por Raphael Cassou

1ª SEMANA:

SEXTA (02/03):

Correria na montagem do cenário por causa do atraso da transportadora na entrega do nosso material. Montamos tudo rapidamente e no prazo.

Estreamos com casa cheia, o ritmo da peça foi bom, mas cometemos alguns erros na parte técnica, normal devido à emoção da estréia. Estreamos com: Fernanda, Bruno, Adriano, Felipe, Breno, Helga, Claudinha, Rafa, Cassou, Rodrigo, Dudu, Kamila, Dani, Joana, Stella e Gui. Na iluminação Drica, Luana. E ainda Jackie como reforço. E Zé na música e vídeos. E Preta dando força nos figurinos. O público gostou.

SÁBADO (03/03):

Ganhamos mais ritmo do que na primeira noite e foram poucos os erros. A casa também estava cheia. O mesmo elenco e com a participação do Gustavo, um amigo músico do Breno. Jackie queimou o braço no ritual. Ela encostou na panela fervendo, ficou no caminho. Depois fomos comemorar no Café do Teatro, com parte da galera. Muito bom.

DOMINGO (04/03):

Tivemos uma queda no ritmo, poucos erros, mesmo elenco. Não lotamos o Teatro, apenas umas 20 pessoas e foi por causa da chuva que caiu no fim do dia, o que espantou o público, talvez por causa disso que demos uma broxada e ainda tínhamos parte do elenco que voltaria de van para o Rio. Participação do Candiê na banda. Jackie teve que dar uma passada no Hospital pra ver o braço, nada de grave. A maioria do pessoal voltou pro Rio. Apenas eu, Dudu, Rafa, Zé, Breno, Adriano, Stella e Preta ficamos em Curitiba. 

2ª SEMANA:

SEXTA (09/03):
Durante a semana além do trabalho de produção, tivemos que ensaiar o Breno em um novo papel, pois o Gui teve que ficar no Rio devido as gravações na Globo. Breno assumiu o ELE. Estava um pouco nervoso devido a esta substituição, que já era certa, mas mandou muito bem. O público foi fraquíssimo, menor que o do domingo anterior e detalhe, uma platéia difícil de convencer, estavam todos muito pouco receptivos e a impressão que deu é que não curtiram a peça. Não contamos com a força do Candiê que estava viajando. Isso de certa forma deu uma baixa na estima da galera. Fomos pra campo com o seguinte time: Fernanda, Bruno, Adriano, Felipe, Breno, Helga, Claudinha, Rafa, Cassou, Rodrigo, Dudu, Kamila, Dani, Joana e Stella. Na iluminação Luana. Ficaram no Rio: Drica, Gui e Jackie.

SÁBADO (10/03):
O Breno pegou o ritmo do ELE e mandou bem pra caramba. Fizemos uma ótima apresentação, desta vez a casa encheu e contamos com a presença da Margarida que é uma das juradas do troféu Gralha Azul. Ela perguntou por Fernanda e Claudinha. Será uma indicação ao prêmio? Quem sabe? Saímos bem contentes com o resultado da apresentação com a substituição. Tanto que fomos todos comemorar na AOCA, dançamos a noite toda e fizemos sucesso lá também, estávamos todos com a camisa da aLEda. Nota 10 pra noitada. Foi nosso prêmio pela boa apresentação. Durante o dia Fernanda reclamou de cólicas nos causando uma certa apreensão, por causa de sua gravidez.
DOMINGO (11/03):
Divulgação pela manhã na feirinha do Largo da Ordem. Apresentação boa, com ritmo, poucos erros e casa cheia, desta vez o público que estava presente embarcou na nossa proposta e riu e chorou conosco. Foi a última participação do Felipe conosco (nesta temporada), que não pode estar mais conosco devido a compromissos. Nesta semana foi quase todo mundo de volta para o Rio, só ficaram Zé, Preta, Dudu e Stella. Eu, Rafa, Breno e Adriano pegamos a estrada logo após a peça com o carro do Zé e voltamos para o Rio, parando em São Paulo pra deixar o Adriano, em Taubaté para o Breno visitar o avô e eu e Rafa para o Rio, para resolvermos coisas da faculdade. Viagem extremamente demorada e cansativa.

3ª SEMANA:

SEXTA(16/03):

Começamos a última semana de apresentações sob tensão total, afinal sabíamos que não contaríamos com Felipe para o POETA e que Kamilinha não poderia vir por causa de trabalho no Rio, estávamos esperando o Átila para substituir o Codeço e Jackie à Kamila. Mas aí o cara deu pra trás. Inventou uma desculpa e furou conosco. Zé saiu a cata de um ator pra dar conta do recado na última semana, saiu distribuindo torpedos pra um bando de gente e ninguém se dispôs a entrar na nossa canoa, a solução acabou sendo contar com a prata da casa e botar o Breno pra fazer o poeta. Ainda bem. Trabalho de leão para o cara estudar a personagem e pegar tudo em três dias. Como se não bastasse essa “bleuba”, surgiu uma ainda maior no meio do caminho. Fernanda foi ao médico e este a proibiu de viajar e se apresentar, ou seja, ficamos sem a INÊS. Mais uma vez a solução ficou em casa mesmo. Helga que já estava se preparando pra assumir a FILHA DE INDRA no Ceará teve que antecipar sua estréia no papel. Teve que decorar aquilo tudo em três dias. Com isso remanejamos muita gente no elenco. Helga ficou com a INÊS, Breno com o POETA, Joana passou para a PORTEIRA, eu (Cassou) pro VIDRACEIRO, Stella para a MÃE e Jackie para a BAILARINA. Gui voltou pra última semana, Candiê também. O outro ponto de tensão da noite foi o atraso no vôo da Helga que estava previsto pra chegar às 17 horas e acabou só chegando às 19:30, resultado saímos do aeroporto às 20:00 e só chegamos meia hora antes de começarmos a peça. Não deu tempo de fazer nem uma passada com Helga. Mesmo assim conseguimos lotar a casa e fazer uma bela apresentação com a nossa nova INÊS matando a pau, salvando todo mundo, segurou a onda legal. Tivemos nesta noite muita seqüela por parte do elenco. Acabamos entrando em campo com a seguinte formação: Helga. Bruno, Breno, Adriano, Cassou, Joana, Dani, Jackie, Claudinha, Stella, Dudu, Gui, Rodrigo e Rafa. Contamos ainda com a presença da Drica que voltou pra fazer a luz e o Bruno fotógrafo pra registrar o fim de semana da EnvieZada. Fim de noite com comemoração na AOCA.

SÁBADO (17/03):

Tivemos um bom tempo pra dar uma passada com a Helga e o Breno, pra eles ganharem mais confiança nas novas funções. Dudu se excedeu na noite anterior e resultado: soro na veia e visita turística ao Hospital do Cajuru, nada demais, acho que ele aprendeu a lição (ou não?), no dia seguinte nem podia olhar pra cerveja. A apresentação foi ótima com Helga mais à vontade na personagem e Breno também. O público foi o melhor de todos. Riram de todas as nossas piadas, Bruno afiadíssimo no OFICIAL mandando todas as deixas em cima. Foi uma apresentação muito boa e casa cheia com todo mundo participando conosco.

DOMINGO(18/03):

Ùltimo dia e última apresentação desta temporada no Teatro Novelas Curitibanas. Durante o dia fomos fazer a divulgação de O SONHO na feirinha do Largo da Ordem, para as nossas apresentações no FESTIVAL DE TEATRO. Foi muito boa, a nossa presença lá cantamos a ciranda por toda a feira e divulgamos bastante. Depois fomos para uma costelada que nos foi oferecida pela Ma Chaves, amiga do Adriano, que viu a peça e se encantou conosco. Foi ótimo, uma tarde muito bacana, onde nos esbaldamos com futebol, piscina e churrasco. À noite, a apresentação foi uma despedida de gala. Cerca de 20 pessoas além da cota de lugares, assistiram à peça no chão e, além disso, voltaram pelo menos umas 30 pessoas que não conseguiram ingressos. A apresentação em si foi muito boa apesar de pequenos e imperceptíveis erros. O público nos brindou com uma participação ativa e nos ajudou a fechar com chave de ouro nossa história no Novelas Curitibanas. Após a apresentação, desmontagem de cenário que durou até aproximadamente uma da manhã. Sem problemas e com eficiência. Desta vez, a maior parte do elenco ficou em Curitiba, voltaram apenas Dani, Claudinha, Drica e Bruno fotógrafo. Para a semana devemos contar com a volta de Kamilinha, Fernanda, Luana e ainda a presença da Sâmara.


Fomos muito aplaudidos e elogiados.

Vale também registrar a força que ganhamos do pessoal que trabalha no Novelas e deixar um abraço pra todos. Jackson, Marta, Brizola, Nardelli, Rose, Alexandre, etc. Enfim, valeu a todos que nos deram um “help” para que a Cia EnvieZada estreasse com pé direito no profissionalismo que estamos buscando.Agora novos caminhos se abrem para nós.



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Confrontações entre o texto literário e o texto dramatúrgico


Estudo sobre a transposição para a cena do romance O Memorial do Convento
Foto: divulgação.

“…fingindo, passam então as histórias
a ser mais verdadeiras que
os casos verdadeiros que elas contam…”

(Memorial do Convento p.134).
Introdução

O presente estudo tem como objetivo confrontar o texto literário de O Memorial do Convento, escrito por José Saramago, com o texto dramatúrgico homônimo adaptado por José Sanches Sinisterra e Christiane Jatahy em 2003.
O interesse está em observar como se deu a transformação de um texto originalmente literário para uma estrutura dramática e em que pontos a obra inicial se modificou com a transição para a cena. A intensão deste estudo é corroborar com a hipótese levantada pela Drª Maria Helena Werneck, professora da Escola de Teatro e do departamento de Teoria Teatral da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Werneck afirma que a forma mais antiga de transposição do texto da literatura para o teatro interfere na estrutura narrativa com a adoção de princípios dramáticos, como a presença dos personagens, como lastro psicológico ou tipologia social, do diálogo intersubjetivo e do conflito. A permanência do realismo cênico está, no entanto, abalada pela fonte literária, que interfere na analogia entre verdade e ficção, oferecendo-se uma ficção anterior como referência. A ideia de “teatro como quadro fiel do que se passa no mundo”, acaba refratada duas vezes, pela materialidade do texto literário e pelo suporte da materialidade cênica, criando uma forma de intertextualidade, que pode se apresentar mais ou menos explícita no texto adaptado ou na cena construída.
A montagem de O Memorial do Convento, com a direção de Christiane Jatahy, aconteceu em 2003. As apresentações iniciais ocorreram no SESC Copacabana (RJ). A peça recebeu críticas elogiosas, principalmente pela ousadia de levar à cena a obra literária de José Saramago e pelas soluções criativas encontradas para dar visualidade e materialidade ao universo do escritor português.

O Memorial do Convento

O livro O memorial do Convento, publicado pela primeira vez em 1982, descreve a construção do Convento de Mafra, ordenada pelo Rei D. João V devido a uma promessa feita ao clero de que construiria neste local um convento se tivesse um descendente com a rainha, D. Maria Ana Josefa – coisa que ainda não havia acontecido, tendo já decorrido dois anos de matrimônio. Ficando a rainha grávida, inicia-se a construção, obra que demonstraria a grandeza e a prepotência do rei.
Neste período histórico imperava uma religiosidade opressiva que controlava a vida da população. O poder do clero residia no Santo Ofício, impondo sua vontade sobre a sociedade através da Inquisição, da tortura e da denúncia, como forma de manter seus interesses e vontades. Quem se atreve a desobedecer será perseguido e castigado nos autos-de-fé.
É num destes autos-de-fé, quando é condenada ao degredo a mãe de Blimunda. Nesta ocasião, Baltazar conhece Blimunda. Baltazar é um ex-combatente que deu baixa das fileiras do exército, pois perdera a mão esquerda na guerra. Os dois apaixonam-se de imediato e se entregam a um amor sem regras, natural e instintivo. Blimunda é vidente e quando em jejum tem o poder de ver as entranhas das pessoas, de perceber e colher suas “vontades”. Ela promete ao amado jamais olhar para o seu “interior”.
Passado algum tempo, o casal encontra o Padre Bartolomeu de Gusmão, indivíduo culto que questiona a igreja e a si próprio com freqüência, levando-o a ser perseguido pela Inquisição. O grande sonho de Gusmão era construir uma máquina de voar, a Passarola. Baltazar, Blimunda e Scarlatti – professor de música da filha do rei – iniciam juntos a construção da engenhoca, na Quinta Duque de Aveiro em São Sebastião da Pedreira.
Enquanto se sucede a construção da Passarola, as obras para levantar o Convento de Mafra avançavam a passos largos. Para a empreitada foram contratados inúmeros homens, muito trabalhadores perdem suas vidas em função da árdua tarefa. O Convento levou 8 anos para ser erguido.
Após a primeira tentativa de fazer a Passarola alçar vôo, o padre Bartolomeu dá mostras de insanidade e tentar colocar fogo em seu invento. Porém, Baltazar e Blimunda o impedem de concretizar tal feito. O clérigo então desaparece, e termina seus dias em Toledo, na Espanha. A partir deste episódio, Blimunda e Baltazar passam a cuidar da máquina, consertando-a sempre que necessário. Em uma destas vezes, algo inusitado acontece, a Passarola levanta vôo levando Baltazar consigo. Blimunda procura-o durante 9 anos. Baltazar é encontrado pela amada, quase que por acaso em um auto-de-fé na cidade de Lisboa, em meio aos condenados à fogueira. Quando o rapaz está prestes a morrer, sua “vontade” desprende-se de seu corpo e é recolhida dentro do peito de Blimunda.

Análise

Hans-Thies Lehmann afirma que o texto vem como um elemento perturbador na cena contemporânea. No teatro contemporâneo existe uma relação desarmônica entre texto e cena e a união entre os dois nunca se estabelece, ficando entre os dois sempre uma relação de subordinação e compromisso (LEHMANN 2007:245). Uma história bem contada e ilustrada perde seu status hegemônico e dá lugar à criação de novas formas, imagens e intertextos que se sobressaem ao texto original, gerando um novo produto. É quando ocorre a transformação do narrativo em estrutura predominantemente dramática.
O fato é que o texto, sendo ele dramático ou não, na contemporaneidade, deixou de ser o centro e passou à condição de elemento colaborador da cena. Ele dá espaço para a visualidade que gera ao ser levado em cena, num processo de apagamento, perda, volta e redimensionamento de suas possíveis leituras e significações. O texto passa a freqüentar uma zona de conflito intensa, que fervilha nas mãos de um encenador, de uma poética e na liberdade que de certa forma o ator conquistou. Analogicamente, é como se o texto deixasse de ser o “ator principal” e passa então a ocupar a cena coletivamente com outros “atores”, fazendo agora parte de um coletivo cênico. Para Lehmann, no teatro pós-dramático, a respiração, o ritmo e o agora da presença carnal do corpo tomam a frente do lógos (LEHMANN 2007:246). O texto deixa de existir somente nas falas e narração, ele se coloca como materialidade no contexto do real que delimita e especifica o teatro. Pode aparecer intacto e cheio de intervenções ou ainda aos pedaços, sem a obrigatoriedade de ter um sentido lógico e ordenado. Podemos partir do texto e nada mais dele conter naquilo que foi levado à encenação. Nesse sentido, ele pode ser visto como elemento perturbador da cena, gerando sempre um conflito com ela, pois um texto pode ter sempre inúmeras leituras, focos de atenção, interpretações. Sendo mais um elemento, mais um dispositivo cênico, sua forma, como se traduz em imagens, vem antes do sentido. Forçar os limites de um texto é uma questão de esfera material. Colocá-lo em risco significa apagá-lo, distanciá-lo, deixar a palavra no que vem depois, a palavra no devir e não mais a priori.
De acordo com a pesquisadora Beatrice Picon-Vallin, existe um fenômeno de apagamento do texto quando este é exteriorizado e levado à cena, pois ouvir é subtrair. Cabe ao campo da visualidade cênica retomar essa perda na fabricação imagens e visões que este texto provoca, liberta. A encenação põe em risco o texto de teatro, e, mais radicalmente, esse risco poderá acarretar até a supressão do texto, e sugerir a possibilidade de um teatro sem texto (PICON-VALIN 2006:72). Portanto, problematizar o lugar de um texto na cena é criar visões e ir contra ele é a instaurar o silêncio, a pausa daquilo que não esta escrito.
A encenação de O Memorial do Convento abala a fonte literária na medida em que a criação das imagens em cena substituem as palavras da fonte literária e interfere na estrutura narrativa com a adoção de princípios dramáticos que são refletidos pelo corpo dos atores. A ideia de “teatro como quadro fiel do que se passa no mundo” acaba refratada duas vezes, pela materialidade do texto literário e pelo suporte da materialidade cênica, criando uma forma de intertextualidade, que pode se apresentar mais ou menos explícita no texto adaptado ou na cena construída.

Dois exemplos da transformação literária para o texto dramatúrgico

Primeiro Exemplo:
Neste fragmento vemos a abertura do romance de Saramago apresentando D.João, D.Maria e expondo a dificuldade que a rainha tem de engravidar. Primeiro no texto literário e a seguir no texto cênico, que é a primeira cena da peça.
No livro p. 11:
“D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmuram na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provalvelmente, tem a madre seca, insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre íntimos se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro por que a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes(…)”
Na dramaturgia (1):
Ator 2 – El-rei está a preparar-se para a noite… El-rei está a preparar-se para… (murmura frases ininteligíveis) D.João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto da sua mulher… (a atriz2 ri sem parar sua ocupação) D.Maria Ana Josefa… Despiram-no os camaristas, o vestiram com o trajo da… (da cabine soam fortes acordes discordantes. O ator2 joga um objeto contra o vidro da cabine, e param os acordes. O ator2 põe vários objetos no quebra cabeça) E isto se passa na presença de outros criados e pajens (murmura frases ininteligíveis). Enfim, de tanto se esforçarem todos, ficou preparado El-rei… Já não tarda um minuto que D.João se encaminhe ao quarto da rainha…
Atriz 2 – (ri e exclama) D. Maria Ana Josefa!
Ator 2 – D.Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos… da… Áustria… para dar infantes à coroa portuguesa…
Atriz 2 – (ri) E até hoje ainda não emprenhou!
Ator 2 – Não emprenhou (pausa). Não (pausa). Já não tarda um minuto que D.João V se encaminhe ao quarto da rainha…
Ator 1 – O cântaro está à espera da fonte. (olha para a Atriz1)
Segundo exemplo:
No fragmento abaixo temos a chegada do bispo inquisidor D. Nuno e frei António de S. José comunicar ao rei que se este construir um convento na vila de Mafra, Deus o agraciará com um sucessor.
No livro p. 13 – 14:
“(…) Mas vem agora entrando D. Nuno da Cunha, que é o bispo inquisidor, e traz consigo um franciscano velho. Entre passar adiante e dizer o recado há vênias complicadas, floreios de aproximação, pausas e recuos, que são as fórmulas de acesso à vizinhança do rei, e a tudo isto teremos de dar por feito e explicado, vista a pressa que traz o bispo e considerando o tremor inspirado do frade. Retiram-se a uma parte D. João V e o inquisidor, e este diz, Aquele que além está é frei António de S. José, a quem falando-lhe eu sobre a tristeza da vossa majestade por não dar filhos a rainha nossa senhora, pedi que encomendasse vossa majestade a Deus para que lhe desse sucessão, e ele me respondeu que vossa majestade terá filhos se quiser, e então perguntei-lhe que queria ele significar com tão obscuras palavras, e ele respondeu-me palavras enfim muito claras, que se vossa majestade prometesse levantar um convento na vila de Mafra, Deus lhe daria sucessão, e tendo declarado isso, calou-se D. Nuno e fez aceno ao arrábido.(…)”
Na dramaturgia:
Atriz 2 – Mas vem agora entrando D. Nuno da Cunha, que é o bispo inquisidor, e traz consigo um franciscano velho.Aquele é…Frei Antonio de S. José.
Ator 2 – Frei Antonio de S.José…a quem… falando-lhe eu sobre a tristeza de vossa majestade…por lhe não dar filhos a rainha nossa senhora….Pedi que encomendasse vossa majestade a Deus…para que lhe desse sucessão…
Atriz 2 – Vossa majestade terá filhos se quiser!
Ator 2 ¬- (depois de uma pausa) E então perguntei-lhe que queria ele significar com…com tão obscuras palavras…(pausa. Move os vidros) E ele me respondeu que se vossa majestade prometesse… prometesse…
Atriz 1 -Levantar um convento na vila de Mafra.
(Silêncio e imobilidade de todos, inclusive do Ator 4, que se vira e olha desde a cabine para ela).
Ator 2 – (recomeçando seu movimento) Se vossa majestade prometesse levantar um convento na vila de Mafra…Deus lhe daria sucessão.
Ator 1 – (para Atriz 1, que voltou a ler) É verdade? (não há resposta) É verdade?
Atriz 2 – Construa vossa majestade o convento e terá brevemente sucessão, não o construa e Deus decidirá.
Sai da cabine uma sonata de Scarlatti. Com esse fundo musical se levanta o Ator 2 e declama enfaticamente.

Notas

(1) O elenco da montagem de Christiane Jatahy contou com a presença dos seguintes atores: Letícia Sabatella (Blimunda), Caio Junqueira (Baltazar Sete-Sóis), Augusto Madeira (rei D. João V), Marcelo Valle (padre Bartolomeu), Fernando Alves Pinto (maestro Scarlatti) e Malu Galli (rainha D. Maria Ana Josefa).

Bibliografia

LEHMANN, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. Tradução de Pedro Sussekind. São Paulo. Cosac e Naif, 2007.
PICON-VALLIN, Beatrice. A arte do teatro: entre tradição e vanguarda. Teatro do Pequeno Gesto, Rio de Janeiro. Letra e Imagem, 2006.
SARAMAGO, JOSÉ. Memorial do Convento. 33ª ed. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2007.
SINISTERRA, José Sanchis, JATAHY, Christiane. Memorial do Convento – Dramaturgia. Rio de Janeiro, 2003.


* texto publicado na Revista Eletrônica Questão de Crítica.
www.questaodecritica.com.br

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Com uma ajudinha dos meus amigos



Oh I get by with a little help from my friends,
hm Gonna try with a little help from my friends,
Oh I get high with a little help from my friends,
Yes I get by with a little help from my friends,
With a little help from my friends .
(Trecho da música With a Little Help From My Friends. Escrita por John Lennon e Paul MCartney. (1967). Do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. The Beatles.)

A casa número 10050 da Cielo Drive, no elegante bairro de Bel Air em Los Angeles, entraria para a história como o palco de um dos episódios mais brutais e sangrentos da recente história criminal norte-americana. Na noite de 9 de agosto de 1969, quatro jovens na casa dos 20 anos – um homem e três mulheres – seguidores de uma seita fundada por Charles Manson, invadem a residência do diretor cinematográfico Roman Polanski, assassinam a sangue frio sua esposa, a atriz Sharon Tate, então grávida de oito meses, e mais quatro amigos do casal. As vítimas foram torturadas, esfaqueadas e espancadas até a morte, o sangue delas foi usado para escrever mensagens nas paredes. Em uma delas foi escrito Pigs (Porcos). Na noite seguinte, o mesmo grupo invade outra casa da região. Matam o empresário Leno La Bianca e sua mulher, valendo-se do mesmo modus operandi. As mensagens escritas na parede da casa desta vez, também com o sangue das vítimas, foram: Helter Skelter (Confusão), Death to pigs (Morte aos porcos) e Rising (Insurreição).
Charles Milles Manson acabara de cumprir uma pena de dez anos de prisão, quando em 1964 formou uma comunidade estilo hippie nos arredores da cidade de Los Angeles. O ex-presidiário tinha idéias grandiosas e os seus discípulos (ou Família Manson) eram jovens que acreditavam serem guiados pela reencarnação do Cristo e do Diabo, materializados na figura de Manson; ele mesmo possuía essa crença, de que fora o eleito para conduzir seu séqüito para a salvação. Segundo eles, uma guerra entre brancos e negros seria o maior conflito já travado na Terra, a chamada Helter Skelter, o mesmo nome de uma música dos Beatles. Charles Manson acreditava que a letra desta música continha mensagens subliminares para a execução de seu plano, o de controlar os Estados Unidos após a Helter Skelter. Para que seu intento obtivesse êxito, o conflito deveria ser deflagrado pela Família. Com seu imenso poder de persuasão, Manson fez com que quatro de seus mais fiéis e fanáticos seguidores, Charles “Tex” Watson, Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Linda Kasabian, colocassem em prática a mirabolante empreitada. Meses após aos crimes da Cielo Drive, a “Família” é presa por roubo de carros e, na cadeia, Susan Atkins confessa a uma colega de cela a autoria da morte de Sharon Tate. Tex, Atkins, Krenwinkel, Kassabiam e Manson são levados a julgamento, que transforma-se rapidamente em um grande circo de mídia. O líder do grupo alegou em sua defesa não ter participado diretamente de nenhum dos assassinatos. O quinteto é condenado à pena de morte em 1971. Entretanto, no ano seguinte à condenação, as leis do estado da Califórnia extinguiram a pena de morte e os réus tiveram sua pena comutada para prisão perpétua.
Os fatos narrados acima são o fio condutor da mais recente produção da companhia teatral curitibana Vigor Mortis, a peça-musical-documentário Manson Superstar. Peça esta apresentada dentro da Mostra Fringe do Festival de Teatro de Curitiba, no TEUNI (Teatro Experimental da Universidade Federal do Paraná) em março passado.
Apenas um rápido aparte: creio que tanto essa peça como tantas outras que participaram da Mostra Fringe deveriam ser melhor acolhidas pela organização do evento, que deixou muito a desejar neste ano de 2010. É triste constatar que um dos maiores Festivais de Teatro do país vem primando pela exaltação do seu gigantismo ao invés de se firmar pela qualidade.
Voltando a Manson Superstar.
A nova empreitada da Vigor Mortis dá prosseguimento à linha de pesquisa que já é marca registrada do grupo paranaense. A fusão das diversas linguagens. Mais uma vez, o cinema, o teatro e agora a música se encontram neste espetáculo que foge do convencionalismo na medida em que não se prende a uma narrativa textual tradicional. O textocentrismo dá vez aos atores que personificam em cena figuras reais; Charles Manson (Andrew Knoll), Roman Polanski (Leandro Daniel Colombo), Sharon Tate (Carolina Fauquemont), Jay Sebring (Wagner Correa), Leslie Van Houten (Michelle Pucci), Tex Watson (Marco Novack), Susan Atkins (Rafaella Marques/Uyara Torrente) e Patrícia Krenwinkel (Ana Clara Fisher) estão representados com uma precisão mimética bastante pronunciada.


Manson Superstar nasceu a partir de cenas e exercícios apresentados pelo elenco a Paulo Biscaia Filho, responsável pela direção e pela “provocação” da linha de dramaturgia. Seu trabalho foi juntar o material apresentado a partir de uma proposta pré-estabelecida e escolher as melhores cenas. O tema para o espetáculo surgiu do fascínio de Biscaia Filho pelo Caso Tate-La Bianca (como ficou conhecida a história nos Estados Unidos). O diferencial desta produção para os demais trabalhos da Vigor Mortis está na busca por novas linhas de pesquisa cênica, que fogem um pouco das características do grupo. Mas não muito! Ainda é perceptível a utilização da linguagem do Gran Grignol em determinadas cenas, especialmente naquelas em que o confronto físico entre as personagens é requisitado. Outros dois pontos bastante pronunciados que chamam a atenção em Manson Superstar: a forma como se estabelecem os diálogos entre as personagens e a recriação do fato histórico pelo viés dramatúrgico. Para esta, fica claro que diretor e elenco muniram-se de farta documentação, como filmes, textos e artigos de jornais, entre outras fontes, colhidas para a composição ficcional. A partir da adoção destes procedimentos, a trupe paranaense se aproximou das ferramentas utilizadas por profissionais que se dedicam aos estudos históricos, aqueles preocupados com o resgate de determinados aspectos da sociedade e de um tempo que ficou para trás. Aqui faço referência clara aos escritos do historiador Georges Duby, especificamente ao livro A história continua no qual ele discorre sobre o que é ofício do historiador, onde por vezes se vê obrigado a adentrar o ofício próprio dos dramaturgos para recriar determinado fato histórico.
Esta atualização contemporânea do fato ocorrido e presentificado pelos atores em cena é uma questão que leva a indagações sobre a posição do encenador/ dramaturgo dentro desta estrutura. Ou seja, vai para além do domínio sobre o assunto a ser teatralizado: de que meios se utilizar para obter a atenção plena do espectador? A resposta a esta pergunta está na escolha da transmissão dos diálogos em Manson. Não há a troca de texto entre os atores, quer dizer, não há uma troca formal. Os atores cantam suas falas e eles se deixam envolver pela música. Daí o entendimento a que se refere o diretor Paulo Biscaia quando afirma se tratar de uma peça com elementos do gênero musical. As poucas falas existentes são em inglês com legendas projetadas em português através de um telão. Mas a encenação é tão absorvente que passados vários minutos após o início do espetáculo é que percebemos que o texto dito pelos atores em cena não é o nosso corriqueiro.
Em Manson Superstar, a teatralidade é alcançada na medida em que o encenador busca o equilíbrio entre os fatos reais e verídicos que estruturam a peça e a subjetividade própria da criação artística. As personagens são retiradas de seus espaços biográficos e colocadas sob o contexto dramatúrgico que nos leva, como espectadores, à recriação dos fatos ocorridos pelo presente da encenação. O resultado é bastante gratificante como experiência teatral e histórica.
Informações sobre futuras apresentações e demais trabalhos do grupo no site da Cia Vigor Mortis.


Crítica publicada na revista eletrônica Questão de Crítica em 29 de maio de 2010

domingo, 23 de maio de 2010

Coluna do Leitor

Deixo aqui o link para o pequeno texto que foi publicado no Jornal Gazeta do Povo do dia 11 de abril de 2010.
Apareceu na Coluna do Leitor.


Gazeta do Povo - Coluna do Leitor

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Grand Guignol, cinema e quadrinhos

 
Foto: divulgação.

Crítica da peça Nervo Craniano Zero, da Cia Vigor Mortis de Curitiba
A peça Nervo Craniano Zero, que esteve em cartaz no mês de março dentro da Mostra Fringe do Festival de Curitiba, foi escrita e dirigida por Paulo Biscaia Filho e encenada pela companhia curitibana Vigor Mortis, que desde 1997 pesquisa e trabalha a linguagem do Grand Guignol. O gênero se baseia nas estéticas do Teatro de Horror de Paris e surgiu no final do século XIX na França. Teve como inspiração inicial as obras de escritores como Edgar Alan Poe e André de Lorde (le prince de terreur) e encaixou-se perfeitamente no espírito decadentista que dominou a literatura francesa do período. O traço marcante do Grand Guignol é a exploração do terror e da violência em cena. É a partir deste contexto que vem à cena Nervo Craniano Zero, trazendo para a contemporaneidade esta linguagem, com uma roupagem que rende ainda homenagens aos mestres dos quadrinhos noir como Will Eisner, Frank Miller e Garth Ennis e ao cinema do diretor canadense David Cronenberg, um dos mestres do cinema de terror e violência.
A trama discute, através da linguagem do Grand Guignol, os impasses da inventividade e da criação artística ou da ausência da criatividade. O espectador é convidado a conhecer a história de um médico (Leandro Daniel Colombo), uma escritora (Michelle Pucci) e uma simplória garota do interior (Rafaella Marques). Os destinos dessas três personagens se cruzam quando, depois de perder a esposa durante a criação de sua invenção – um chip indutor de dopamina, que uma vez instalado no nervo craniano zero, supostamente, daria a seu usuário surtos ilimitados de criatividade – o doutor é contratado pela escritora que, após alcançar a notoriedade com seu último trabalho, morre de medo de não conseguir mais escrever nenhum livro de sucesso. Cautelosa, ela coloca um anúncio no jornal para que uma cobaia humana teste o chip. A única a responder é uma garota que tinha a pretensão de ser uma grande cantora e é humilhada em cadeia nacional em um programa de calouros na televisão. Sem nada a perder, a moça aceita implantar a engenhoca em seu cérebro. Para que essas transformações aconteçam em cena, Biscaia não poupou sangue, pois o público vê no palco uma operação no crânio (ao som de Total Eclipse of the Heart de Bonnie Tyler), corações arrancados, tesouradas na nuca, entre outros recursos típicos das histórias de terror que, apesar de criarem situações extremamente cômicas, são levados a sério pela companhia curitibana.
A encenação da Vigor Mortis envereda pela fusão entre a linguagem teatral e a linguagem ágil do cinema no momento em que há uma espécie de simbiose na interação entre os atores no palco e o vídeo. Este inclusive é um dos motes da companhia paranaense, que procura explorar as possibilidades do horror e da violência como forma de linguagem artística, aliadas ao uso de recursos multimídias de forma orgânica com a dramaturgia e a interpretação. O objetivo é levar cena, texto e interpretação ao limite entre a linguagem teatral e audiovisual. O recurso visual aqui não surge como elemento meramente ilustrativo, atua como se fosse um quarto ou quinto personagem, que trabalha como um elo de ligação entre os quadros. Este expediente acaba nos envolvendo em um estado no qual os territórios das sensações e as relações humanas do cotidiano se confundem com a atuação. Por mais inverossímeis e inusitadas que sejam, em dado momento, somos abarcados por aquelas personagens e as situações apresentadas. A experiência teatral se dá não somente no campo visual, mas também no campo sensorial. Por mais que haja uma “quarta-parede” que separe palco e platéia somos conduzidos pelo clima nonsense, o kitsch, o suspense, o terror e a comédia.
Foto: divulgação.

Em Nervo Craniano Zero fica evidente a fusão de três linguagens em especial: a teatral, a cinematográfica e a estética das histórias em quadrinhos. Difícil é não associar a encenação a esta última linguagem. Paulo Biscaia se nutre do melhor que o mundo das graphic novels pode nos oferecer e põe em cena quadros que somente encontraríamos nas histórias públicadas por Will Eisner e seu célebre Spirit. Essa forma se apresenta não somente como uma proposta estilística de materialização da originalidade da arte sequencial, mas também em uma via, senão metodológica, ao menos propositiva, de trabalhar o gesto, a fala, a respiração, o movimento, a expressão, a configuração e a simbolização cênica, e de exacerbar os clichês. As personagens são propositalmente estereotipadas. Patrice Pavis afirma que ações estereotipadas e a utilização de tais estereótipos no teatro oferecem pouco interesse do ponto de vista da originalidade dramatúrgica ou da análise psicológica (PAVIS, 2005:144). Entretanto, em Nervo Craniano Zero, o diretor e dramaturgo explorou em seu benefício essa pobreza congênita dos estereótipos e dos clichês. Remetendo o espectador a tipos de personagens já conhecidos, ele ganha tempo para melhor manipular a intriga, concentrar-se nos saltos da ação e trabalhar a teatralidade da atuação/jogo dos atores. Os estereótipos dramatúrgicos resolvem de imediato a questão da caracterização e do jogo psicológico: eles convidam o encenador a um jogo muito teatral, imaginativo e muitas vezes paródico. Nós espectadores, em um primeiro instante, nos sentimos de certa maneira frustrados pela ausência de uma maior catarse psicológica e de identificação, mas encontramos em seguida, na correspondência dramatúrgica do jogo cênico, um grande prazer nesta experiência teatral.
OBS: Crítica originamente publicada na revista eletrônica Questão de Crítica (www.questaodecritica.com.br) edição de abril de 2010.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Merci beaucoup, mademoiselle Bruni


Eu tive que criar este post depois de ser homenageado pela Carla Bruni, ou Senhora Sarkozy. Ela fez essa música pensando em mim, lógico. Vou postar primeiro a letra em francês que é mais chique e na sequência a tradução.

Brincadeiras a parte, a moça canta muito, além de ser uma gata!!!

Se cuida Sarkozy!


Raphaël

Quatre consonnes et trois voyelles
C'est le prénom de Raphaël
Je le murmure à mon oreille
Et chaque lettre m'émerveille
C'est le tréma qui m'ensorcelle
Dans le prénom de Raphaël
Comme il se mêle au a au e,
Comme il les entre-mêle au l
Raphaël à l'air d'un ange
Mais c'est un diable de l'amour
Du bout des hanches
Et de son regard de velours
Quand il se penche
Quand il se penche mes nuits sont blanches
Et pour toujours
Hmm

J'aime les notes au goût de miel
Dans le prénom de Raphaël
Je les murmure à mon réveil
Entre les plumes du sommeil
Et pour que la journée soit belle
Je me parfume Raphaël
Peau de chagrin pâtre éternel
Archange étrange d'un autre ciel
Pas de délice pas d'étincelle
Pas de malice sans Raphaël
Les jours sans lui deviennent ennui
Et mes nuits s'ennuient de plus belle
Pas d'inquiétude pas de prélude
Pas de promesse à l'éternel
Juste le monde dans notre lit
Juste nos vies en arc en ciel
Raphaël a l'aire d'un sage
Et ses paroles sont de velours
De sa voix grave
Et de son regard sans détour
Quand il raconte
Quand il invente je peux l'écouter
Nuit et jour
Hmm

Quatre consonnes et trois voyelle
C'est le prénom de Raphaël
Je lui murmure à son oreille
Ça le fait rire comme un soleil


Raphaël

Quatro consoantes e três vogais
É o nome de Raphaël
Eu o murmuro à minha orelha
E cada letra me enlouquece
É o trema que me emerge
No nome de Raphaël
Como ele mistura-se ao 'A', ao 'E',
Como ele mistura-os ao 'L'
Raphaël tem o ar de um anjo
Mas é um diabo do amor
Da extremidade dos quadris
E de seu olhar de veludo
Quando inclina-se
Quando inclina-se, minhas noites são brancas
E para sempre
Humm

Amo as notas ao gosto de mel
No nome de Raphaël
Eu as murmuro ao despertar
Entre as plumas do sono
E para que o dia seja belo
Eu me perfumo Raphaël
Pele de seda, pastor eterno
Arcanjo estranho de um outro céu
Sem delícia, sem faísca
Nem malícia, sem Raphaël
Os dias sem ele tornam-se enfado
E as minhas noites se entediam do mais belo
Sem inquietude, sem prelúdio
Sem promessa eterna
Só o mundo na nossa cama
Só nossas vidas em arco-íris
Raphaël tem o ar de um sábio
E suas palavras são de veludos
De sua voz grave
E de seu olhar sem rodeio
Quando ele conta
Quando ele inventa, posso ouví-lo
Noite e dia
Hmm

Quatro consoantes e três vogais
É o nome de Raphaël
Eu o murmuro à sua orelha
Isso o faz rir como um sol

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

ENCERRANDO CICLOS

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos.
Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram. Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.
Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou esposa, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora.
Soltar.
Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, e portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.
Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre o mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não tem data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”.
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa, nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Fecha a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu própria, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és.
E lembra-te: “Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”.